
Essa semana recebi de um amigo a notícia de que o Brasil ameaça criar uma espécie de internet paralela para combater a dependência tecnológica dos Estados Unidos.
Já pensou: como seria a internet brasileira?
Primeiro, o sujeito que quisesse ter um endereço de email teria que ir até uma agência da Caixa Econômica e esperar 4 horas na fila para pagar a TCEPF - Taxa de Cadastramento de Email Pessoa Física, de 12,76 UFIR's. Depois, com o protocolo em mãos, precisaria tirar 2 cópias autenticadas, deixar a via azul no INSS e carimbar a via laranja na Embratel - seção de novos emails (falar com Dona Vilma somente das 10h às 14h).
Se ele quisesse alugar um domínio para fazer um simples blog, precisaria de todo o procedimento acima (incluindo a taxa de aluguel de domínio de 56,81 UFIR's) e ainda uma Certidão Negativa de Débito do INSS, uma autorização da Prefeitura para "Averbação de Domínio Próprio em Rede IP Pública" e um registro na Receita Federal. Melhor seria um despachante tomar conta do processo já que teria que ser enviado à Brasilía para receber a assinatura do Ministro da Web. Os tramites para abertura de um novo site demorariam em torno de 3 meses (desde que não fosse em época de eleições).
Abrir um domínio não seria fácil, mas a maior dificuldade estaria em fechá-lo. Aí, a espera poderia levar até 7 anos, já que o cidadão teria que comprovar que não ultrapassou a marca de 250 hits por dia nem utilizou seu site para fins lucrativos. No caso de uma das duas hipóteses, seria cobrado o ISCSW - Imposto Sobre Comercialização de Sites Web. A princípio, o ISCSW em São Paulo seria de 22,5%, e na Bahia - graças ao incentivo fiscal de Antonio Carlos Magalhães - seria de apenas 12,4% para até 3.500 hits/dia, fazendo com que a maioria dos IP's do Brasil se localizassem no nordeste. De qualquer forma, se não quisesse esperar tanto tempo para fechar completamente o domínio, poderia dar uma gorjeta para o analista de suporte da Prefeitura que ele daria um jeitinho de agilizar as coisas.
Aliás, a internet brasileira não poderia usar um nome em inglês para definí-la pois isso iria contra o princípio de sua criação. O ideal seria usar um nome típico e que remetesse às origens nacionais como "Catimbolé-Uçu" (em Tupi - "Teia Grande"). A catimbolé-uçu teria de ter seu próprio protocolo, o TCP/PBC (Protocolo Brasileiro de Catimbolé-uçu) que seria compatível com o IP, mas cerca de quatro vezes mais lento.
Para fazer tamanha estrutura funcionar com eficácia, seria necessária a contratação de aproximadamente 32 mil funcionários através de concursos públicos fraudulentos. Teriam preferência os parentes de deputados e vereadores. Nesse total estão incluídos não apenas os técnicos, mas também as secretárias, motoristas, faxineiros, mecânicos de automóveis oficiais, sapateiros, costureiros, engraxates, etc. O piso salarial seria de R$ 2.564,87 e o teto seria de R$ 32.657,98 (para o Engraxate-Chefe). Ainda assim, frequentemente haveriam greves e aí, o serviço ficaria um pouco lento ("operação padrão"), atingindo cerca de 300 kbps em residências da periferia (muito abaixo dos 2.400 kps habituais).
Para facilitar a navegação seriam criados novos tipos de domínio:
.25m (para comércios da Rua 25 de Março)
.efigenia (para comércios da Rua Santa Efigênia)
.mensalão (para empresas de publicidade de campanha)
.fbm / .cv / .ada (para sites relacionados ao tráfico de drogas).
