quarta-feira, 29 de março de 2006

O espaço: a fronteira final

Porãsy VI, minutos antes do lançamento


Faltavam apenas duas horas para o tão aguardado lançamento da Porãsy VI, a primeira nave espacial totalmente made in Brasil. O nome escolhido, pra variar, vinha da mitologia tupi (era o nome da índia que, ao sacrificar-se pela tribo, tornou-se o planeta Vênus). Por fora, a nave carregava dois foguetes usados, comprados sem licitação do governo do Paquistão. Em cada um estavam escritas as marcas das empresas patrocinadoras: Fanta Uva, Caninha 51 e Fogos Caramuru.

Entre os cientistas e técnicos que fariam parte da inédita missão estavam também o neto de um senador do Maranhão e uma empregada doméstica vencedora do concurso "Astronauta Por Um Dia" promovido pelo Caldeirão do Hulk. Levavam na bagagem, instrumentos de medição de alta tecnologia, tubos de ensaio com organismos vivos para testes e exames, 12 CD's de axé, DVD's piratas dos filmes "Apollo 13", "Guerra nas Estrelas" e "Dois Filhos de Francisco", quatro caixas de cerveja e um saquinho de amendoim torrado. Levavam também uma bandeira brasileira amarrada em um berimbau que seria espetado em algum asteróide.

Havia uma certa tensão no ar, já que essa era a sexta tentativa (as outras 5 naves explodiram antes da decolagem matando todos os bons cientistas que estavam por perto. Por falta de mão de obra qualificada (e ainda viva), a Porãsy VI teve de ser construída por um mecânico, dois serralheiros e um motoboy, que ajudava depois do expediente).

Após três tentativas frustradas na Base de Alcântara e duas na Barreira do Inferno, em Natal, foi decidido que esse lançamento seria na praia de Copacabana e após ele haveria uma apresentação da bateria da Unidos da Tijuca. Um milhão e meio de pessoas se acotovelavam na praia (a uma distância segura de 2 metros dos foguetes nucleares) aguardando o espetáculo do lançamento.

O Presidente aproximou-se da nave seguido por sua comitiva e recebeu do seu cerimonial uma garrafa de Cidra Cereser. Em seguida chacoalhou a garrafa até que a rolha estourasse na direção da nave, atingindo e danificando permanentemente o módulo de expulsão de dejetos (imediatamente a tripulação franziu o nariz de nojo, imaginando como seria ficar lá em cima sem poder dar descarga).

Nesse momento, dá-se início à queima de fogos e na TV aparece o Galvão Bueno berrando: "Boa tarde amigos. Falamos agora ao viiiivo direto da praia de Copacabana para mais esse evento emocionante..." Segue-se o famoso "Brasil-il-il" com mais eco do que nunca. Depois de entrevistar os 3 convidados especiais (Arnaldo Jabor, Casagrande e Sheila Melo) sobre a "emoção" e o orgulho de pertencer a um dos 351 países com tecnologia espacial, ele começa a contagem regressiva: "10, 9, 8, 7 [Começa a tocar a musiquinha do Ayrton Senna]... 3, 2, 1. Sai que é suuua, Porãsy!".

A multidão prende a respiração. Os motores são acionados e em poucos segundos a nave é impulsionada rumo ao espaço.

Rumo ao infinito.

Sete segundos mais tarde atinge o Pão de Açúcar.