terça-feira, 28 de novembro de 2006

Painel de controle


Aconteceu outro dia: assim que acordei vi que minha cidade era controlada pelo Windows. Ainda na cama, enquanto ainda esfregava os olhos, apareceu no ar uma telinha flutuante, semi-transparente, com meu nome e esperando uma senha. Ali, bem na minha frente. Até tentei me levantar, mas não conseguia sair do lugar. Como não tinha nenhum teclado por perto, falei a senha bem baixinho e a tela sumiu.

Abri a janela do quarto dando um duplo clique com o dedão e reparei que o céu estava lilás. As nuvens meio esverdeadas e o sol era azul! Depois cinza, depois verde-água! Olhei pra rua e vi que tinha uma menininha brincando com o painel de controle. Ela bem que tentou colocar uma fotografia dela com um poodle recém-tosado na praia, como papel de parede celeste, mas a foto ficou toda esticada (acho que a resolução era muito baixa pra cobrir todo o firmamento), então ela voltou para o fundo lilás. De péssimo gosto, por sinal.

Resolvi sair pra caminhar pelo bairro e ver o que mais havia de novo. Enquanto eu caminhava, de vez em quando, apareciam janelinhas azuis do meu lado direito avisando: "Fulaninho entrou", ou "Beltrano está chamando sua atenção". Mas eu nem ligava. Parei na uma pracinha e me sentei em um banco. Fiquei olhando as nuvens verdes mudando de forma sobre o infinito lilás do céu. "Aquela lá ó, parece o Hulk... bem ali ó, do lado do pé de alface!". Fiquei ali por uns cinco minutos, praticamente sem me mover. Foi quando, de repente, escureceu tudo.

Era a proteção de tela.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Sr. Dito & Mr. Slogan


Mr. Slogan convidou o Sr. Dito para uma conversa à mesa de um café. "Quem é vivo sempre aparece, hein?", disse Sr. Dito. "Pois é. Dedicação total a você!", respondeu o sempre bajulador Mr. Slogan.

Mr. Slogan tentava convencer Sr. Dito a viver de merchandising, como ele: "É como eu dizia, Dito, você devia abandonar o uso desses ditados populares. Faça como eu. Alías, eu sou você amanhã. Just do it!". Mas o sr. Dito não queria saber da agitação do mundo artístico. "Isso não é pra mim, Slogan. Quem nasceu pra vintém nunca chega a tostão. Você sabe: pau que nasce torto...".

"Eu sei, eu sei que parece cansativo", rebateu Slogan. "Parece mas não é. O salário não é nenhuma Brastemp, é verdade, mas também não é de todo mau: vale por um bifinho. Veja o meu caso: o tempo passa, o tempo voa, mas a minha poupança continua numa boa. Dei até férias para meus pés..." e terminou com o incentivo: "Desperte o tigre em você!".

Sr. Dito retrucou: "Nem tudo que reluz é ouro, Slogan. Além disso, você está cansado de saber que quando a esmola é grande até o santo desconfia." E completou, com ar de sabedoria: "Mais vale um pássaro na mão do que dois voando."

"Dito, eu sei que há coisas que o dinheiro não compra. Para todas as outras existe...", disse Slogan, mas não completou a frase. Foi interrompido pelo Sr. Dito, que falou com firmeza: "Sabe o que eu acho? Quem tudo quer, tudo perde. E quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Afinal, Deus ajuda quem cedo madruga."

"Mas eu amo muito tudo isso! Vem pra Caixa você também! É feito pra você. Nem parece banco." implorava Mr. Slogan, enquanto fazia sinal para o garçom. Mas, Sr. Dito não se abalava: "Quem ri por último, ri melhor!", dizia sorrindo quando o garçom chegou e ofereceu o cardápio.

Mr. Slogan desistiu de convencer o amigo: "Então tá. Deixa o homem trabalhar, afinal, nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?". "É isso aí. Pra bom entendedor, meia palavra basta", concordou Sr. Dito. "Aceita algo mais forte? Desce macio e reanima" ofereceu Sr. Slogan. "E aqui é mais barato, mais barato! Preço melhor ninguém faz.". Mas Sr. Dito diz que prefere só um cafezinho. Slogan não resiste: "Bons momentos pedem um bom café..."