quinta-feira, 28 de junho de 2007

Entrevista exclusiva com Misantrópico Casmurro

Mansão do Sr. CasmurroMansão do Sr. Casmurro

Ao chegar à mansão, fui recebido pelo mordomo, o Sr. Foster, que me anunciou imediatamente. Esperei cerca de dez minutos na saleta, sentado em um divã e admirando a mobília. Alguns minutos depois, vestindo um smoking preto e um boné da Nike, veio me receber o Misantrópico Casmurro, autor de um dos blogs menos visitados da internet.

- Sente-se - disse Casmurro, enquanto apontava para uma poltrona e assoava o nariz com um lenço. - Gripe mal curada. Pois diga lá: o que o traz aqui? Em que posso ser-lhe útil?

- Eu vim para a entrevista, lembra? Mandei um fax...

- Ah sim, claro. - resmungou enquanto se acomodava em uma cadeira próxima. - Pode começar. Já sei: vai querer saber como comecei a escrever, quantos anos tenho, qual minha cor preferida...

- Bem, preparei uma listinha de perguntas - balbuciei enquanto desdobrava o papel que estava no bolso. Imediatamente, pulei as três perguntas iniciais, pois eram exatamente as que o Sr. Casmurro previra. Fui logo para a quarta pergunta:

- Como é ser o autor do blog menos acessado de toda a internet?

- Ah meu rapaz. - disse com ar orgulhoso - Isso é para poucos. Não foi fácil chegar a essa marca. Afinal, a internet é acessada por um bilhão de pessoas em todo o mundo. Felizmente, 999.890.000 só acessam a página da UOL. Restam portanto, pouco mais de cem mil pessoas que corriam o risco de ver meus escritos. Foi aí que tive que usar toda a minha habilidade, escrevendo péssimos textos, sem chamativos, e a maioria deles um tanto rabujentos. Assim consegui afugentar a maioria dos internautas. Aliás, eu odeio a palavra "internauta".

- E o senhor já cogitou a possibilidade de começar a incluir em seu blog, notícias sobre celebridades ou novas tecnologias? - perguntei, quando o mordomo chegou trazendo duas latas de coca-cola, sem gelo e limão. O sr. Casmurro continuou:

- Certa vez, quase publiquei um post citando o nome da Paris Hilton, mas aí as pessoas iriam acabar encontrando o blog. - disse, com preocupação - Tem esses sites de busca, sabe? São perigosos. Algum desavisado poderia cair no meu blog e talvez até ler um post... - e tomou um gole da coca-cola. Em seguida, abriu a boca dando aquela baforada de quem acaba de tomar um golão de coca. Continuei:

- Mas afinal, pra que serve um blog se ele não é lido por ninguém?

- Como assim? Você está querendo me dizer que os outros blogs servem pra alguma coisa só porque são lidos por pessoas? Assim o senhor está me ofendendo...

- Está bem, vamos falar sobre outros assuntos: o que o senhor pensa sobre o aquecimento global?

- Por que? Está com calor? Quer que ligue o ar-condicionado?

- Não, obrigado. A propósito, qual sua opinião sobre a participação do exército britânico na guerra do Iraque? E sobre a tragédia de Darfur? Qual a implicação da queda do dólar no mercado de ações e futuros? O que acha do Dunga como técnico da seleção? Qual a...

- Acho que já é o suficiente por hoje, meu rapaz. Tenha um bom dia. - e virando-se para o mordomo - Alfred, acompanhe o cavalheiro até a porta. Ele já está de saída.

- Mas...

Não deu tempo de dizer mais nada. O Sr. Casmurro já tinha subido para seus aposentos e o mordomo, acompanhado por um hotweiller, me indicava a saída.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

No sinal vermelho

"Estou desempregada e vendo balas para ajudar no meu sustento e de minha família. R$ 1,00".

No caminho pro trabalho, eu quase sempre tenho que parar no sinal vermelho, no cruzamento de duas avenidas movimentadas. Quando a luz vermelha do semáforo acende, a moça (ou senhora, que eu não sei como se chama), inicia sua andança pelos carros parados. Em cada um deles ela deixa, pendurado no espelho retrovisor do motorista, um saquinho de balas com a mensagem acima. Em seguida volta recolhendo os pacotinhos, ou o dinheiro de quem compra. Comprei uma ou duas vezes. Ela já está nesse cruzamento há tanto tempo, que acho que a mensagem de "desempregada" nem se aplica mais.

O que me admira é que ela está sempre sorrindo. Não liga se você compra as balinhas ou não. Não liga se você fala "bom dia" ou não. Ela fala. E sorri.

Confesso que às vezes acordo mal-humorado (tem alguém me cutucando... tá bom, tá bom, quase sempre eu acordo mal-humorado). Nesses dias não quero muito papo às sete e meia da manhã. Num desses dias, a "tia da balinha", passou por mim e pendurou o saquinho de balas no retrovisor. Ameaçou andar até o próximo carro, mas parou. Olhou pra mim (sorridente; sempre) e perguntou, meio em tom de brincadeira: "Tá bravo hoje?". Eu não lembro se estava. Mas sorri de volta, tentando disfarçar a cara de mal-humor. O sinal ficou verde e eu fui embora.

Daí pra frente, sempre que passo por esse cruzamento, me lembro de sorrir. Ou de comprar balas.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Soneto do Namoro

Primeiro, ele queria um carro novo,
Achava que seria grande ajuda,
Depois viajando foi à Indaiatuba
Visitar a cidade e o seu "povo".

O "povo" de que fala é uma menina
Que o rapaz intentava namorar.
Pra isso até parou de frequentar
A quadra, o bloco sete e a piscina.

Livrou-se do seu palm infra-vermelho
E cortou todos seus gastos na lojinha
Pra gastar todo dinheiro em gasolina

Descobriu que é inútil tudo o mais
Que quer mesmo é continuar a namorar
E a internet não deixar de acessar.

* Este soneto foi composto com dois quartetos e dois tercetos, tendo versos decassílabos heróicos (similares aos 8816 versos de "Os Lusíadas", de Camões. Tá bom, menos, menos..., senão o Christian e a Karina me matam).

quinta-feira, 8 de março de 2007

Dos usos de onomatopéias e frases sentimentalóides


A internet cria alguns fenômenos interessantes*. Um exemplo: a transcrição de risadas em forma alfabética**. No início, utilizava-se o padrão de redação e estilo dos jornais quando transcrevem entrevistas: ("risos" entre parênteses). Com o tempo, o idioma foi sendo apunhalado com as abreviações (se é que "vc" me entende) e chegou-se ao "rs" ou algo assim. Os mais discretos, costumavam usar "he he...". Até aí tudo bem. Mas de um tempo pra cá, é comum ver escrito "hahaha", "kkkkkkkk" e o pior de todos, o mais temido, o mais abominável: "huahuahuahuahua".

O que é exatamente uma risada do tipo "huahuahuahuahua"? A risada do Pateta? O que uma pessoa sensata imagina quando lê "huahuahuahuahua"? Eu imagino que do outro lado, em frente a um computador cheio de adesivos de desenhos animados e crânios humanos, está sentado alguém com sérios problemas psicológicos e um gravíssimo déficit de aprendizado. Deve estar vestindo um pijama do ursinho Puff com um babador molhado, e segurando uma faca ensangüentada na mão esquerda, enquanto ri bem alto: "huahuahuahuahua"!

Outro exemplo de fenômeno lingüístico "interessante"* que se populariza graças a quantidade de psicóticos que possuem banda larga, é o uso do termo "eu te amo". Até onde eu sabia, uma das coisas mais importantes, mais sérias e mais fortes que são feitas durante a vida é dizer a frase: "eu te amo". Tá certo que no cinema e nos romances essa frase ficou meio comum, meio batida. Mas mesmo nos filmes, se reparar bem no contexto, a sentença só costuma ser dita quando há um amor forte, profundo - ou quando o canalha quer enganar a moçoila. A pessoa que diz "eu te amo", pode até perceber mais tarde que estava enganada, mas naquela hora ela realmente achava isso. Dizer que ama o fulano, sem saber ao certo se quer perpetuar o namoro, seria considerado meio cruel em muitas culturas...

Mas as coisas pelo visto mudaram. A gurizada só quer saber de dizer que "ama". Não, não estão falando por aí em voz alta, que ninguém é tão carinhoso assim - nem tão doido. Mas na hora de escrever no site, blog, flog, orkut, myspace, e afins... aí se soltam! Deixam recadinhos carinhosos... Falam do outro com a maior intimidade, mesmo que nunca tenham se visto pessoalmente. É um tal de "te amo" pra cá, "te amo" pra lá... Quando não querem mostrar tanta intimidade preferem usar "I lóviu" mesmo (no ingrêis parece mais "macho"?). Falam "eu te amo" pra qualquer um. Viu o fulano uma vez e já ama. Até homem que se considera "mui macho" enche o peito escreve pro amigo: "te amo, cara".

Já pensou se a moda pega? Se a frase salta da tela do micro pras bocas do povo? O chefe liga pra casa às 9 da noite. A mulher escuta a conversa da cozinha, e na despedida o marido diz:

- Tá legal então. Pode deixar na minha mesa que amanhã eu resolvo isso... Um abraço. Ah, te amo, cara!.

Assim que desliga o telefone:

- Que história é essa de te amo? - diz a patroa indignada. Não conseguiu disfarçar não?.

- Não é nada disso que você está pensando, meu bem... era o meu chefe mesmo. Juro. É só modo de falar. Lá na firma todo mundo fala assim...

- Sei. Pra falar isso pra mim, levou quase 6 meses... Agora "lá na firma", você fala até pro teu chefe. Deve falar isso até pro segurança, pra recepcionista, pro manobrista... humpf!

E o marido, meio sem graça:

- Huahuahuahua...

* Palavra usada por jornalistas sérios quando querem evitar escrever "idiotas".

** Existem casos ainda mais graves, em estudo. Um dos mais bárbaros já registrados é o chamado "emoguxês" - síndrome que caracteriza pessoas que iXcReVeM aXiM para as MigUxAs... sabe-se que esse tipo de gente existe e em grandes proporções, mas o presente post não pretende abranger todos os tipos de irracionalidades.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

A máquina de poesias

Posando com a máquina antes do primeiro teste


Terminei! Depois de anos de muita pesquisa e dedicação, dias a fio e noites sem dormir, consegui terminar a mais estupenda criação do mundo tecnólogico. O mundo não será mais o mesmo depois de tão magnífica invenção!

É uma máquina de poesias.

Basta digitar um assunto para o poema e selecionar um tipo para que o computador saia agrupando palavras, levando em conta características como sinônimos, rima, métrica, etc. O seu banco de dados possui mais de vinte mil obras catalogadas dos grandes escritores mundiais para serem usadas como base para os textos.

Vamos ao primeiro teste. O teste que mostrará ao mundo o futuro da literatura. Eu tive um sonho. E nele eu via um mundo onde todos podiam escrever seus próprios livros: romances, ficção ou auto-ajuda, em prosa ou poesia. Até analfabetos eram famosos escritores de best-sellers.

> Digite um assunto: AMOR (ah... o amor: tema preferido dos grandes poetas da antiguidade. Agora ele será o primeiro alvo do "Super Poeta", ou talvez "VirtualWriter", ainda não sei).

> Selecione o tipo de escrita: SONETO

- Aguarde... soneto sendo criado

- Soneto concluído com sucesso:


Amor é fogo que queima até arder
É dor que dói mais que dor de dente
É dor de barriga e diz: "tem gente!"
Quem mandou ter exagero ao comer

Me traz uma Aspirina, por favor
Pode ser outro remédio até Doril
Eu já tentei tomar e a dor sumiu
Mas voltou com mais poder e sem sabor

Amar ou Pepsamar é indigestão
Vou ter que ficar lendo o dia inteiro
Sem amor, enfurnado no banheiro

E no quarto, me reviro no colchão
Pensando se sabotaram o saleiro
Com amor que também é nome de tempero