"Estou desempregada e vendo balas para ajudar no meu sustento e de minha família. R$ 1,00".
No caminho pro trabalho, eu quase sempre tenho que parar no sinal vermelho, no cruzamento de duas avenidas movimentadas. Quando a luz vermelha do semáforo acende, a moça (ou senhora, que eu não sei como se chama), inicia sua andança pelos carros parados. Em cada um deles ela deixa, pendurado no espelho retrovisor do motorista, um saquinho de balas com a mensagem acima. Em seguida volta recolhendo os pacotinhos, ou o dinheiro de quem compra. Comprei uma ou duas vezes. Ela já está nesse cruzamento há tanto tempo, que acho que a mensagem de "desempregada" nem se aplica mais.
O que me admira é que ela está sempre sorrindo. Não liga se você compra as balinhas ou não. Não liga se você fala "bom dia" ou não. Ela fala. E sorri.
Confesso que às vezes acordo mal-humorado (tem alguém me cutucando... tá bom, tá bom, quase sempre eu acordo mal-humorado). Nesses dias não quero muito papo às sete e meia da manhã. Num desses dias, a "tia da balinha", passou por mim e pendurou o saquinho de balas no retrovisor. Ameaçou andar até o próximo carro, mas parou. Olhou pra mim (sorridente; sempre) e perguntou, meio em tom de brincadeira: "Tá bravo hoje?". Eu não lembro se estava. Mas sorri de volta, tentando disfarçar a cara de mal-humor. O sinal ficou verde e eu fui embora.
Daí pra frente, sempre que passo por esse cruzamento, me lembro de sorrir. Ou de comprar balas.