quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Dono da Verdade


Tudo começou quando, no meio de uma discussão, alguém se virou pra ele e disparou: “Ah! Você se acha o dono da verdade!”.

O outro, sem se ofender nem nada, permaneceu calmo, o que é natural já que é um fato conhecido que quanto mais chata a pessoa, maior a capacidade dela se manter tranqüila em situações de pressão e estresse. “Veja bem, meu jovem...” – respondeu o chato – “na realidade sou o dono da verdade sim. E posso provar...” – disse enquanto sacava de seu bolso um pedaço de papel amarelado. Desdobrou a folha com cuidado. Ela dizia o seguinte:

“A quem interessar possa:
Declaro para devidos fins que a partir da data abaixo, todo o conjunto de conclusões a que a humanidade chegou ou chegará com certeza absoluta denominado “verdade”, doravante passa a pertencer a [aqui entrava o nome do chato que será preservado para evitar processos].

O presente documento concede ao seu portador o direito de discordar de tudo e de todos e de sentir-se superior a todo e qualquer ser, humano ou animal, pelo tempo estabelecido para a duração das verdades. Caso alguém descubra que determinada verdade dita pelo portador deste documento não é bem verdade e sim mera suposição dita no ardor de uma discussão apenas para que ele saia por cima, ou ainda que a suposta verdade trata-se de uma mentira deslavada, ainda assim prevalece o direito do portador deste documento de sair-se por cima, com a cara orgulhosa e com um risinho arrogante.

O portador deste documento reserva-se ao direito de não aceitar nenhuma sugestão ou idéia que lhe for dada. Seu dever é desqualificar qualquer possível idéia que não tenha partido de si mesmo, com a já mencionada cara orgulhosa e risinho arrogante. Fica-lhe concedido o direito de falar mais alto e usar qualquer poder que lhe tenha sido dado para impor suas idéias, por mais tacanhas e esdrúxulas que sejam.

O presente É VERDADE e dou fé.

Assinado: O dono da verdade”

“Você deve estar brincando, né?” – disse o outro quando leu o texto. “Isso é uma besteira! Além disso foi assinado por você mesmo!”.

“Aí é que está” – respondeu o dono da verdade. “Se eu sou o dono, por que preciso que alguém assine isso pra mim?”

“Mas...”

“Veja bem, meu rapaz...” – interrompeu. “Partindo do princípio que eu sou o dono da verdade, eu posso redigir esse documento e ele passará a ser verdade, certo?”

“Mas aí é que está! E partindo do princípio que você não é o dono?” – desafiou. A voz já ficava mais estridente. Os donos da verdade sabem como irritar os outros e fazê-los perder a paciência.

O chato retrucou: “Mas eu sou! Está escrito aí, não está?”

“Tá! Desisto! Não dá pra conversar com você.” – resmungou o homem saindo de fininho.

“Não falei que eu tinha razão?” – respondeu o chato, com a cara orgulhosa.

E com um risinho arrogante.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Bananas Corp.


1987 (Rio Tietê) - Festa de lançamento do primeiro
microprocessador da Bananas Tecnologia Ltda.

Eis que surge a seguinte notícia sobre a Intel:

Para o final deste ano, estão previstos os chips "Nehalem" (nome de um rio americano, como a Intel tem chamado todos os seus últimos lançamentos), sucessores dos atuais "Penryn".

Quer dizer que a Intel nomeia seus produtos com nomes legais de rios dos EUA?! Até que é uma idéia boa: Mississipi, Hudson, Ohio, etc. Tem sonoridade (embora esse tal de Nehalem seja meio esquisito).

Podemos presumir que as empresas de tecnologia brasileiras irão querer fazer o mesmo (quando conseguirem fazer um processador qui nem qui a Intel ou AMD fazem).

Já podemos imaginar as notícias estampando a capa da Info: "Sorocaba - o novo processador que irá substituir o São Francisco IV 3,3 Mhz.".

É claro que para estações mais potentes poderíamos instalar o Dual Tietê Pro (com o clock equivalente ao de dois super processadores Pinheiros e a quase três Piratiningas de 2 Mhz).

Não poderiam faltar os top de linha, voltados para grandes servidores e multiprocessamento. Pra isso poderíamos usar um ou mais Solimões interligados formando uma rede Amazonas.

Será que não tem nenhum rio com nome legal por aqui?

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Entrevista exclusiva com Misantrópico Casmurro

Mansão do Sr. CasmurroMansão do Sr. Casmurro

Ao chegar à mansão, fui recebido pelo mordomo, o Sr. Foster, que me anunciou imediatamente. Esperei cerca de dez minutos na saleta, sentado em um divã e admirando a mobília. Alguns minutos depois, vestindo um smoking preto e um boné da Nike, veio me receber o Misantrópico Casmurro, autor de um dos blogs menos visitados da internet.

- Sente-se - disse Casmurro, enquanto apontava para uma poltrona e assoava o nariz com um lenço. - Gripe mal curada. Pois diga lá: o que o traz aqui? Em que posso ser-lhe útil?

- Eu vim para a entrevista, lembra? Mandei um fax...

- Ah sim, claro. - resmungou enquanto se acomodava em uma cadeira próxima. - Pode começar. Já sei: vai querer saber como comecei a escrever, quantos anos tenho, qual minha cor preferida...

- Bem, preparei uma listinha de perguntas - balbuciei enquanto desdobrava o papel que estava no bolso. Imediatamente, pulei as três perguntas iniciais, pois eram exatamente as que o Sr. Casmurro previra. Fui logo para a quarta pergunta:

- Como é ser o autor do blog menos acessado de toda a internet?

- Ah meu rapaz. - disse com ar orgulhoso - Isso é para poucos. Não foi fácil chegar a essa marca. Afinal, a internet é acessada por um bilhão de pessoas em todo o mundo. Felizmente, 999.890.000 só acessam a página da UOL. Restam portanto, pouco mais de cem mil pessoas que corriam o risco de ver meus escritos. Foi aí que tive que usar toda a minha habilidade, escrevendo péssimos textos, sem chamativos, e a maioria deles um tanto rabujentos. Assim consegui afugentar a maioria dos internautas. Aliás, eu odeio a palavra "internauta".

- E o senhor já cogitou a possibilidade de começar a incluir em seu blog, notícias sobre celebridades ou novas tecnologias? - perguntei, quando o mordomo chegou trazendo duas latas de coca-cola, sem gelo e limão. O sr. Casmurro continuou:

- Certa vez, quase publiquei um post citando o nome da Paris Hilton, mas aí as pessoas iriam acabar encontrando o blog. - disse, com preocupação - Tem esses sites de busca, sabe? São perigosos. Algum desavisado poderia cair no meu blog e talvez até ler um post... - e tomou um gole da coca-cola. Em seguida, abriu a boca dando aquela baforada de quem acaba de tomar um golão de coca. Continuei:

- Mas afinal, pra que serve um blog se ele não é lido por ninguém?

- Como assim? Você está querendo me dizer que os outros blogs servem pra alguma coisa só porque são lidos por pessoas? Assim o senhor está me ofendendo...

- Está bem, vamos falar sobre outros assuntos: o que o senhor pensa sobre o aquecimento global?

- Por que? Está com calor? Quer que ligue o ar-condicionado?

- Não, obrigado. A propósito, qual sua opinião sobre a participação do exército britânico na guerra do Iraque? E sobre a tragédia de Darfur? Qual a implicação da queda do dólar no mercado de ações e futuros? O que acha do Dunga como técnico da seleção? Qual a...

- Acho que já é o suficiente por hoje, meu rapaz. Tenha um bom dia. - e virando-se para o mordomo - Alfred, acompanhe o cavalheiro até a porta. Ele já está de saída.

- Mas...

Não deu tempo de dizer mais nada. O Sr. Casmurro já tinha subido para seus aposentos e o mordomo, acompanhado por um hotweiller, me indicava a saída.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

No sinal vermelho

"Estou desempregada e vendo balas para ajudar no meu sustento e de minha família. R$ 1,00".

No caminho pro trabalho, eu quase sempre tenho que parar no sinal vermelho, no cruzamento de duas avenidas movimentadas. Quando a luz vermelha do semáforo acende, a moça (ou senhora, que eu não sei como se chama), inicia sua andança pelos carros parados. Em cada um deles ela deixa, pendurado no espelho retrovisor do motorista, um saquinho de balas com a mensagem acima. Em seguida volta recolhendo os pacotinhos, ou o dinheiro de quem compra. Comprei uma ou duas vezes. Ela já está nesse cruzamento há tanto tempo, que acho que a mensagem de "desempregada" nem se aplica mais.

O que me admira é que ela está sempre sorrindo. Não liga se você compra as balinhas ou não. Não liga se você fala "bom dia" ou não. Ela fala. E sorri.

Confesso que às vezes acordo mal-humorado (tem alguém me cutucando... tá bom, tá bom, quase sempre eu acordo mal-humorado). Nesses dias não quero muito papo às sete e meia da manhã. Num desses dias, a "tia da balinha", passou por mim e pendurou o saquinho de balas no retrovisor. Ameaçou andar até o próximo carro, mas parou. Olhou pra mim (sorridente; sempre) e perguntou, meio em tom de brincadeira: "Tá bravo hoje?". Eu não lembro se estava. Mas sorri de volta, tentando disfarçar a cara de mal-humor. O sinal ficou verde e eu fui embora.

Daí pra frente, sempre que passo por esse cruzamento, me lembro de sorrir. Ou de comprar balas.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Soneto do Namoro

Primeiro, ele queria um carro novo,
Achava que seria grande ajuda,
Depois viajando foi à Indaiatuba
Visitar a cidade e o seu "povo".

O "povo" de que fala é uma menina
Que o rapaz intentava namorar.
Pra isso até parou de frequentar
A quadra, o bloco sete e a piscina.

Livrou-se do seu palm infra-vermelho
E cortou todos seus gastos na lojinha
Pra gastar todo dinheiro em gasolina

Descobriu que é inútil tudo o mais
Que quer mesmo é continuar a namorar
E a internet não deixar de acessar.

* Este soneto foi composto com dois quartetos e dois tercetos, tendo versos decassílabos heróicos (similares aos 8816 versos de "Os Lusíadas", de Camões. Tá bom, menos, menos..., senão o Christian e a Karina me matam).