Raios de sol atingiam as pernas gordinhas do Eli enquanto ele brincava no montinho de areia em frente à sua casa com terraço (era a única casa com terraço da rua - todos morriam de inveja, mas os moradores da casa mesmo, só tinham usado o terraço umas poucas vezes).
Era uma casa grande, não tão grande como os pais do Eli gostariam, mas acima da média. Precisava de uma reforma, é verdade. Em cento e sete anos havia sido revestida (com uma espécie de betume misturado com argila) apenas quatro vezes sendo a última há uns 22 anos.
Via-se um jardim mal cuidado em frente a porta principal que dava para uma grande sala, iluminada por algumas janelas que davam para o lado oeste, ao fundo (de onde era possível ver o vale). Era nessa sala que aconteciam reuniões de família e onde se tomavam decisões importantes. Ultimamente ela só vinha sendo usada para festas e jantares que sempre acabavam em bebedeira e uma boa briga entre os parentes.
Do lado de fora, o jardim terminava em uma cerquinha feita com junco amarrado em feixes e uma pequena abertura que dava acesso ao passeio público. Atravessando-se a cerquinha, bem juntinho dela, havia um montinho de areia quente onde o menino brincava. Eli, que tinha acabado de fazer onze anos, gostava de se sujar na areia com alguns brinquedos rudimentares feitos por ele mesmo, embora seus pais já estivessem planejando colocá-lo pra trabalhar na lavoura do Sr. Nabuco. Precisavam ganhar uns trocados e pagar as dívidas.
Enquanto Eli enchia a pequena caixa de madeira com areia e cascalho, ouviu algumas vozes de pessoas conversando próximos à varanda vizinha. Falavam sobre a tal família que construiu um barco enorme:
- Gastaram uns sessenta anos nessa bobagem. Um absurdo!
- Soube que agora deram pra encher aquele barco com todo tipo de bichos e se fecharam lá dentro!
- Capaz até de pegarem alguma doença...
(continua...)

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